sexta-feira, 4 de abril de 2014

Requiem [Semana 02]

Autora: Natalie Bear
Quando o Vento Selvagem Sopra

Passos lentos, preguiçosos, reverberavam na couraça do grande navio “paquete” e se aproximavam perigosamente. Os latidos tinham cessado. O cão novamente fitava a moça com seus olhos azuis, investigando-a.

- Saia, clandestino. - a voz rouca e grave comandou com imponência. O sujeito dono dela colocou-se de frente ao canto escuro no qual seu cachorro implicara ter encontrado algo.

A desesperada mocinha tentava ver o rosto daquele à sua frente, uma tarefa muito difícil uma vez que a noite dificultava a visão e o vento constante no convés fazia os cabelos escuros do sujeito dançarem em frente ao seu rosto.

Nenhum dos dois homens que lhe seguiram tinha cabelos longos e castanhos. Talvez aquele que lhe intimava, mesmo com o tom quase agressivo, não representasse realmente perigo para a indefesa donzela.

- Eu… Não sou clandestina. - a tímida e medrosa voz era quase engolida pelos sons distorcidos do metal e da água que com ele se chocava. A mocinha, trêmula e vacilante, ergueu-se de seu sombrio esconderijo, rezando para os deuses de todos os povoados que um dia se estabeleceram nas terras daquele vasto mundo por uma chance de que  o homem não quisesse lhe entregar aos malfeitores.

- O que faz ai, então? - o sujeito inquiriu de forma nada amistosa. Se não estivesse de costas para a luz que a lua gentilmente jogava sobre o navio de aço, talvez seu rosto estivesse exposto agora, como o da moça estava.

- Tem… Dois homens… Estão atrás de mim. - explicava, abraçando firmemente sua bolsa companheira e estreitando os olhos da cor de avelãs para observar melhor as feições ocultas dele.

O estranho nada disse, apenas virou o rosto em direção ao cachorro, que permanecia sentado, contemplando-a atentamente enquanto deixava a língua pender da boca quase sempre aberta.

- Qual seu nome, moça? - pronunciou-se.

- Rebeca... - a garota respondeu um pouco mais amenizada pela mudança de rumo da conversa repentina, mas ainda apreensiva de ser vista ali.

- Xerife. - a figura sombria apontou para o animado cachorro - Lawrence. - levou o braço coberto pela manga cinzenta do casaco ao peito.

- M-muito prazer em conhece-lo, senhor Lawrence. - baixou sutilmente a cabeça, em um retraído cumprimento - E Xerife. - levou a pequena e trêmula mão hesitante à cabeça do cão, afagando-lhe a orelha por breves segundos e foi retribuída com uma molhada lambida nos dedos.

- Vamos. - Lawrence seguiu pelo convés no corredor de onde viera, mas parou e voltou-se para a moça que parecia ter petrificado. Examinava-a em silêncio com seus olhos de um azul pálido quase espectral.

- Hein? - Rebeca arregalou os olhos em confusão, no entanto logo estavam daquele jeito por outro motivo. Atrás do estranho sujeito dono do simpático cãozinho estavam “eles” parados. As silhuetas escuras dos dois homens que assombravam sua viagem. Ambos fitando-a com um sorriso de satisfação, pois tinham encontrado o pequeno ratinho que gostava de se esconder nos buracos escuros daquela embarcação à vapor.


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