sexta-feira, 25 de abril de 2014

Filho das Profundezas [Semana 05]

Autor: Marco Fischer
Parte V - Aperto

Um cardume de pequenos peixes amarelos se espalhava ao redor de Violka enquanto a capitã nadava pelo fundo do lago, seguindo o Maleko que rapidamente se afastava entre as rochas porosas da extinta cratera de vulcão que havia formado aquela ilha. Um tapete de corais se estendia como um jardim pelo caminho, seguindo até a entrada escura de uma caverna submersa.

Algo agarrou o pé da cigana enquanto ela se preparava para nadar até a passagem. Se virando, ela viu o corpulento mergulhador segurando seu tornozelo com suas mãos robustas, começando a puxá-la enquanto observava impassível por trás do vidro do capacete. Mervyn era um homem que levava seu trabalho a sério, e não hesitaria em afogar a capitã se necessário fosse para impedi-la de atrapalhar na captura do garoto-peixe.

Violka girou o corpo em um movimento ágil antes que o brutamontes a agarrasse de costas, apoiando o joelho sobre o peito de Mervyn como em uma dança sincronizada. O mergulhador respondeu apertando o pescoço da capitã com firmeza, fazendo uma bolha de ar escapar entre seus lábios. Ela tentou chutar com a perna que estava livre, mas o corpo do marinheiro era rígido como as pedras ao redor.

A capitã fazia agora um esforço enorme para não se deixar levar pelo desespero, o que poderia ser fatal. Lutando para se libertar, ela alcançou o cabo de sua arma, uma rapieira de ponta comprida, como o bico fino de um beija-flor. A espada quase escapou de seus dedos quando ela a puxou, mas a cigana havia herdado a habilidade de seu povo e estava acostumada a manusear objetos com desembaraço.

A rapieira girou na mão de Violka em um movimento ligeiro que terminou em uma estocada. A ponta da arma passou a poucos centímetros da cabeça de Mervyn, que largou a perna da capitã para finalizá-la com as duas mãos.


O mergulhador parou antes de terminar o movimento, se contorcendo enquanto seu escafandro se enchia de água. Violka se libertou do aperto em seu pescoço que enfraquecia e com os dois pés usou o corpo de Mervyn para se impulsionar. Se a situação não fosse tão urgente naquele momento, teria dado um sorriso ao ver que havia acertado em cheio a mangueira de ar que abastecia o capacete.

Ela não tinha tempo a perder. Não era mais apenas uma questão de ser passada para trás pelos Arautos do Vapor. Violka não podia deixar que aquela criatura jovem e assustada fosse capturada para servir de troféu ao Império. Mesmo sendo uma aliada da Coroa, havia coisas com as quais simplesmente não concordava, e tirar de alguém sua liberdade era uma delas.

A capitã se deixou levar pela corrente do túnel, desviando de um canteiro de esponjas fosforescentes. Segurando ao máximo o fôlego que restava, ela se apressou para alcançar o Maleko antes do navio de Faulkner, mas ao chegar do outro lado percebeu que era tarde demais. Diante de seus olhos, o garoto-peixe era agarrado por uma monstruosa garra de metal.


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