sexta-feira, 2 de maio de 2014

Filho das Profundezas [Semana 06]

Autor: Marco Fischer
Parte VI - Auxílio

O monstro de metal caminhava vagarosamente no entorno da ilha, levando em uma de suas garras o Maleko, que já começava a ficar sem forças para se debater. A coisa tinha a forma de um imenso cilindro cor de cobre, seu topo desaparecendo acima das ondas. As garras e pernas de sustentação eram como as de um crustáceo, e suas janelas iluminavam o solo marinho com uma tênue luz âmbar.

O Império ainda não possuía a tecnologia necessária para desenvolver veículos que tivessem autonomia completa debaixo da água, mas era capaz de criar máquinas como aquela, capazes de se locomover em baixas profundidades por curtos períodos com o apoio de uma embarcação. Para Violka seria impossível lutar contra aquele colosso de ferro, com seu fôlego já se esvaindo a cada segundo.

Após a luta e o longo mergulho pela passagem, a capitã não tinha escolha senão retornar até a superfície para pensar em uma maneira de resgatar o garoto. Foi então que percebeu que, enquanto se distraía com a máquina, estava sendo puxada para o fundo por uma forte correnteza, a conduzindo até algo que parecia uma extensa cachoeira submersa de areia branca, despencando em um profundo abismo azul.

Hipnotizada pela imagem ao mesmo tempo em que tentava se libertar e chegar à superfície, ela sentia seu corpo sendo arrastado pelo fundo até as margens da fenda. A areia agitada açoitava seus pés e tornava o nado ainda mais difícil. Ela procurava em vão por algo onde pudesse se agarrar para escapar de ser puxada até o fundo do abismo, onde a pressão da água a mataria antes mesmo dela se afogar.

Foi então que uma sombra escura surgiu nas águas cristalinas, aproximando seu enorme corpo rapidamente enquanto nadava até a capitã. Era um tubarão-baleia, um dos maiores que Violka já havia visto, e sobre suas costas agarrado na nadadeira dorsal estava o velho Kahuna com seu bastão de madeira em riste.

Sem pensar duas vezes, a capitã se segurou em uma das nadadeiras peitorais do massivo animal, percebendo então que a pele deste no lugar das manchas costumeiras estava recoberta por desenhos e padrões tribais como os dos nativos do arquipélago. Aquela era uma criatura sagrada, um servo dos deuses-tubarão do povo Hui. E se o sábio havia pedido o auxílio dela, é porque não estava nada feliz com os invasores.

O tubarão emergiu para que Violka pudesse respirar, a conduzindo até águas mais calmas, já próximas da ilha. O Kahuna olhou então para ela com uma expressão séria, os longos cabelos grisalhos colados sobre o rosto.

-Pegue seu navio e deixe nossa ilha em paz! – ele disse em um tom de aviso – Vamos ensinar uma lição ao outro capitão antes de expulsá-lo!

Ofegante demais para responder, Violka nadou até a praia e se sentou na areia, exausta. Seu peito arfava e doía e os olhos ardiam com o sal, mas sua maior aflição era nada poder fazer em relação ao garoto, que estava agora nas mãos dos Hui.


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