sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Filho das Profundezas [Semana 22]

Autor: Marco Fischer
Parte XXII - Lemuria

A flor de lótus mágica no interior da lanterna de Violka brilhou com mais intensidade quando a capitã se aproximou para examinar a estátua de cristal. Com sua postura imponente de um imperador da cintura para cima e a comprida cauda de peixe serpenteando abaixo, a figura não deixava dúvidas de ser uma representação de Dagon, o último Aeon da antiga Lemuria.

Incontáveis eras antes, o mundo em que Violka vivia abrigava reinos que ofuscariam com sombras monumentais o Império Windlês e a Liga Aurinesa, mesmo com a avançada tecnologia das novas civilizações. Pois as nações antigas contavam com os milagres dos Aeons, entidades divinas que concediam aos seus Reis Sacerdotes poderes capazes de desafiar até mesmo as ciências arcanas.

Entre esses reinos estava Lemuria. Assim como suas irmãs Atlântida e Mu, ela havia recebido as bênçãos dos Aeons que regiam os mares, se tornando soberana sobre as ondas. Mas quando o Crepúsculo dos Deuses se abateu sobre o mundo, levando com ele grande parte da magia divina, as águas deixaram de obedecê-la, deixando-a isolada e vulnerável no meio do oceano.

Isso era quase tudo que Violka sabia a partir dos livros ou das conversas com Pesha: Lemuria havia sido a nação que mais perdurara após o Crepúsculo, se mantendo próspera graças a Dagon, um Aeon que não havia sido afetado pelo catastrófico evento. Mesmo assim, ela acabou desaparecendo em algum momento, restando apenas escassas ruínas cobertas de algas que não revelavam nenhuma pista sobre seu fim.

O interesse do Capitão Roberts em Ula-Yhloa era mais compreensível agora, assim como o motivo de jamais ter revelado a localização da ilha. O navegador do lendário pirata, Ernest Crow, era um homem obcecado pela história das civilizações de antes do Crepúsculo dos Deuses, e pelos nebulosos segredos que ainda guardavam.

Claro, piratas jamais deixavam de ser piratas, e Violka não teve nenhuma surpresa ao verificar que a estátua tinha vários sulcos onde antes deviam estar pedras preciosas e outros engastes valiosos. Balançando a cabeça e rindo ao mesmo tempo em que sentia uma pontada de frustração, a capitã girou uma pequena peça na base da lanterna, liberando uma fina nuvem de pólen luminoso da lótus que servia como chama.

O pó flutuou por toda a câmara em um padrão aparentemente irregular, até começar a se assentar nas paredes e no chão e brilhar, revelando inscrições que estavam ocultas na pedra desgastada ou que jamais deveriam ser visíveis a olho nu. Ela conseguia reconhecer a rebuscada escrita lemuriana surgindo nos murais e altares, assim como a língua imortal dos seres das águas, que conhecia tão bem.

Outra escrita mais recente, porém, ela não conseguia identificar. Eram símbolos caóticos e estranhos, que lhe davam tontura apenas por olhar diretamente. Quando mal havia se recuperado da vertigem, o som de água espirrando fez com que entrasse em alerta e levasse a mão ao punho do sabre. Algo estava saindo do poço no centro da câmara, e ela tinha a sensação de que não era amigável.


Ir para o próximo capítulo de "Filho das Profundezas"

Nenhum comentário:

Postar um comentário