quinta-feira, 10 de julho de 2014

Filho das Profundezas [Semana 16]

Autor: Marco Fischer
Parte XVI - Limo

As praias de Ula-Yhloa possuíam uma areia fina e negra, que escorria lentamente entre os pés de Violka e Pesha enquanto eles começavam a explorar a ilha. Tudo naquele lugar parecia úmido e um pouco morto. Carcaças de estranhos animais marinhos se espalhavam pelas rochas rugosas do litoral, banhadas pelo mar mesclado de verde e roxo, que mais de perto parecia ter uma textura gosmenta.

Enquanto procuravam um lugar seguro para esconder o bote que os havia levado até ali, a capitã e o estudioso perceberam que abaixo daquelas águas havia imensos degraus de pedra que seguiam abaixo até sumir de vista nas profundezas. Era como se a ilha fosse o topo de uma antiga e gigantesca estrutura de pedra, engolida pelo oceano e esquecida por seus próprios construtores.

-Eu jamais vi um lugar como esse – disse Pesha enquanto examinava o cadáver murcho de algo que parecia ser um lula com múltiplos olhos opacos e pequenos. – É como se o mar estivesse contaminado por algo antinatural, mas não percebo nenhum sinal de ocupação recente que pudesse ter causado isso.

-Seja qual for o segredo do mapa de nosso hóspede, só pode estar no coração da ilha. – respondeu Violka terminando de colocar o bote entre dois rochedos. – Não tem nada aqui além de areia e essas coisas nojentas.

Subitamente, um movimento chamou a atenção dos dois. Próximo à construção em forma de trapézio no centro da ilha, uma figura de vestido os observava e agora dava as costas e desaparecia. Violka apenas acenou com a cabeça para Pesha e os dois seguiram para onde ela estava, embora o naturalista estivesse um pouco amedrontado com a perspectiva de encontrar um nativo daquele lugar tenebroso.

O caminho para o interior de Ula-Yhloa seguia por encostas onde não crescia nenhum tipo de vegetação, apenas um lodo verde-claro e escorregadio que tornava a trilha um pouco mais difícil. Chegando mais perto, avistaram grandes figuras sagradas entalhadas nos paredões de pedra, do que parecia ser uma criatura em forma de lagosta. Violka se lembrou dos Deuses Tubarão das Ilhas Kupuna, e se perguntou se os nativos do arquipélago não poderiam ser descendentes do povo que um dia havia habitado aquela ilha, com sua devoção pelas criaturas marinhas.

A figura de vestido os esperava diante de um portal de pedra que conduzia para o interior do grande trapézio, entalhado de forma grotesca como um amálgama de várias carapaças de crustáceos. Quando ela se virou, Violka e Pesha encararam o rosto de uma mulher oriental, com os olhos adornados por uma maquiagem púrpura e os lábios tingidos de azul-escuro. Sua cabeça estava coberta por uma água-viva que de longe parecia um chapéu elegante, mas agora causava repulsa com seus tentáculos translúcidos se retorcendo devagar. Mesmo o vestido da mulher parecia gelatinoso, como se não fosse feito de tecido e sim de algum material orgânico e pulsante.

-A Ordem do Peixe-Diabo lhes dá as boas vindas – disse ela com uma voz melodiosa, mas que deixava escapar um hálito venenoso.


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