sexta-feira, 4 de julho de 2014

Contos do Amante da Morte [Semana 15]

Autora: Mari-Youko-Sama
Capítulo 13: Lança e Espada

Naquela noite, o céu e a terra eram imersos em um mesmo tom de laranja fumegante e avassalador. O som das chamas crepitando, das estruturas de madeira ruindo, os gritos dos homens em seus pedidos de misericórdia. Marcos estava parado, paralisado pelo terror, suas pernas bambeavam, suas mãos tremiam e seus olhos não conseguiam fixar nenhuma saída:

– N-não… não posso… e-eu prometi! – as palavras eram sibiladas, e embora sua mente tentasse se convencer a todo custo, seu corpo não obedecia.

Logo uma voz conhecida lhe chamou com urgência. Solomon, montado em seu cavalo pardo preferido, parava brevemente ao lado do moreno:

– Se prometeu, cumpra! Se deu sua palavra, honre! Morra nas chamas como um verme, ou enfrente e sobreviva! – o rosto do ruivo estava mais sombrio e duro do que de costume, mas seu olhar nunca esteve tão intenso.

Dito isto, Solomon cavalgou, gritando ordens para alguns homens, organizando-os em uma linha de doze homens montados e mais seis a pé. Rumaram para frente junto ao portão escancarado do forte. Marcos observou aqueles homens excepcionais tão melhor preparados para enfrentar uma batalha de vida e morte, que só conseguia amaldiçoar sua própria incapacidade:

– Inferno! Eu quero ir, mas não quero morrer… – apertou o punho do machado com força o suficiente para seus tremores cessarem – Eu sou um covarde… um maldito covarde! MALDIÇÃO! – Suas pernas finalmente se moveram para frente, seu rosto vertia lágrimas misturadas ao suor e as cinzas, seu coração saltava em seu peito a cada passo dado adiante, sua mente num turbilhão de pensamentos, seus pais, seus irmãos, Apony, até tudo isso desaparecer e dar lugar apenas a uma forte convicção:

– VIVER!!! – Marcos soltava o ar de seus pulmões em um grito tão desesperado quanto seu ataque, alcançando a linha de frente, a tempo de ver Solomon ser atravessado por uma lança na axila do braço direito e em seguida, o homem que o atingira deslizava sua espada de lâmina fina e comprida para a garganta do outro, abrindo um vão que fez chover o sangue do ruivo.

Marcos não teve tempo para chorar a perda, apenas se lançou contra o maior com a espada e escudo, sendo rechaçado quando o outro moveu o cadáver de Solomon na direção do moreno que bloqueou com seu escudo. No instante seguinte, as lâminas das espadas dançaram e se enroscaram de forma que o jovem Blackwood foi desarmado. Agora, com a guarda aberta, a mesma lança que perfurou seu Capitão o perfurava no ombro direito, fazendo-o cerrar os dentes pela dor aguda da ponta afiada dilacerando a carne, abrindo espaço para o cabo da arma.

Não demorou para que a mesma lâmina que ceifou seus outros companheiros, fizesse caminho ágil até sua garganta e, por reflexo, Marcos sacou seu machado e arremessou na direção do outro, sem expectativa de acerto, sem esperanças. Seu último movimento não foi para se proteger, e sim para acertar seu inimigo custasse o que custasse.

“Mortos não contam histórias, é o que dizem!”


Ir para o próximo capítulo de "Contos do Amante da Morte"

Nenhum comentário:

Postar um comentário