sexta-feira, 13 de junho de 2014

Filho das Profundezas [Semana 12]

Autor: Marco Fischer
Parte XII - Pesha

Já era noite, e o navio de Violka voava entre as nuvens iluminadas pelo brilhante luar das Ilhas Kupuna. O mar abaixo cintilava refletindo o céu noturno e ocasionalmente era tingido pela luz intensa e azul das algas bioluminescentes agitadas pelas ondas. Um cardume de baleias surgiu como um esquadrão de manchas escuras à frente, lançando esguichos tão altos que quase alcançavam o convés do Hummingbird.

Em sua cabine, a capitã relaxava diante da grande vidraça, deitada em uma grande e confortável rede de tecido vermelho enquanto bebia de um coco partido ao meio. O parapeito da vidraça estava totalmente ocupado por cestos e tigelas de barro contendo abacaxis, romãs, ameixas e todo tipo de fruta que havia negociado com os nativos, além de uma jarra contendo um doce e delicado vinho rosé.

Quando alguém bateu à porta, ela se levantou calmamente já sabendo de quem se tratava. Ali estavam sua navegadora Chuva de Outono, seu contramestre Stevo, o homem grande de rabo-de-cavalo que a havia acompanhado para alimentar o Maleko no porão, e um jovem com óculos de aro grosso e barba rala, chamado Pesha.

Diferente do que muitos no Império Windlês insistiam em acreditar, o povo cigano de Violka não era formado por ladrões de estrada e artistas itinerantes. Eles eram um povo nômade que preferia viver de forma honesta sem comprometer a própria liberdade, mas cujos costumes diferentes acabavam gerando desconfiança e superstição entre os habitantes das cidades por onde passavam.

Pesha era um dos infelizmente comuns exemplos de oportunidade negada por esse preconceito. O rapaz tímido e estudioso sonhava em se tornar um acadêmico em uma das Reais Sociedades de Windlan, mas os inúmeros entraves burocráticos e as impressões erradas sobre seus antecedentes acabaram fazendo com que ele se visse obrigado a se tornar um ‘agente de campo’ naquela tripulação.

O jovem não tinha muito a reclamar do tratamento da capitã, mas diferente do que seus colegas mais ‘civilizados’ acreditavam, ele não era um ‘ladrão aventureiro’ e temia por sua vida nas viagens perigosas do Hummingbird, principalmente quando não tinha noção das reais intenções da capitã, como daquela vez. Ele só desejava fazer logo alguma descoberta importante e ser reconhecido por seu esforço intelectual, não por alguma habilidade ‘ladina’ que lhe era falsamente atribuída.

Com um suspiro resignado, Pesha acompanhou a elfa e o grandalhão até a mesa de reuniões da cabine, onde Violka já se sentava diante deles com uma expressão de plena curiosidade, que mal podia ser contida quando ela falou.

-Fizeram o que pedi?

-Ele pareceu um pouco desconfiado no começo, mas acabou se comportando – respondeu Pesha com sua voz contida e educada, estendendo um papel amarelado para a capitã. – Stevo teve que prometer trazê-lo o dobro de peixes amanhã, se não se importar.

-De forma alguma! Até um cardume inteiro seria um preço pequeno a pagar pelo que temos aqui! – respondeu Violka segurando o papel com um brilho nos olhos. – Já estava na hora de vocês saberem o real motivo dessa viagem!


Ir para o próximo capítulo de "Filho das Profundezas"

Nenhum comentário:

Postar um comentário