sexta-feira, 6 de junho de 2014

Filho das Profundezas [Semana 11]

Autor: Marco Fischer
Parte XI - Colibri

O convés do Hummingbard balançava de forma quase imperceptível nas ondas, seguindo o vento e pouco a pouco se afastando da ilha. Violka desceu as escadas do convés com a ajuda de uma muleta, acompanhada por um homem careca de porte atarracado e com um espesso bigode grisalho. Eles caminharam entre a tripulação atarefada até um pequeno aposento no porão, onde o Maleko se encolhia em um canto úmido, o olhar estrelado vago e distante.

-Você ainda não deve ter comido nada hoje. – disse a capitã segurando um lampião e olhando para o garoto-peixe com preocupação – E temos aposentos melhores no navio, se quiser saber.

-Estou bem aqui. Muito seco e barulhento lá em cima. – respondeu o Maleko com aparente cansaço na voz. Ainda estava confuso e fraco depois do que havia acontecido no abismo, e apenas concordara em embarcar por não ter escolha. Tanto o Rei Polvo como o Kahuna o consideravam uma ameaça agora, e ele não seria mais bem-vindo no santuário da ilha.

Com um suspiro de resignação, Violka assentiu para o homem que o acompanhava e este colocou um balde com alguns atuns frescos próximo ao rapaz. Sem nenhuma cerimônia, o Maleko avançou sobre um dos peixes e começou a devorá-lo vorazmente, ali mesmo na frente dos dois.

-Bâldâbâc! Parece que você já está bem à vontade aí mesmo. – exclamou Violka com uma expressão que misturava uma risada com uma careta de nojo. Ela então se virou ao escutar a navegadora elfa que se aproximava com urgência, trazendo em sua mão a luneta.

-É o navio de Faulkner – alertou Chuva de Outono – Tão vindo atrás da gente.

Violka seguiu a elfa até a popa e lhe tomou a luneta das mãos, vendo o navio dos Arautos do Vapor expelindo uma grossa coluna de fumaça pelas chaminés de sua caldeira mecânica, que trabalhava com toda a força para ganhar o máximo de velocidade. Aquele não era um ritmo que conseguiriam manter por muito tempo, mas seria o suficiente para abordar o pequeno e ágil Hummingbird.

-Olha lá o homenzinho e seu brinquedo achando que pode vir aqui e levar o nosso hóspede. – disse Violka com escárnio, abaixando a luneta e sorrindo para a elfa. - Vamos mostrar a ele porque ninguém alcança o nosso navio!

-Ah! Eu tava só esperando você falar! – respondeu Chuva de Outono com uma alegria infantil, correndo animada para o timão e fechando os olhos enquanto começava a entoar uma canção melodiosa e ressonante, como o canto de uma baleia.

Dente de leão, pitada de poeira.
Que leva embora a brisa altaneira.
Leva também esse barco a navegar.
Para ir nas nuvens também flutuar.


A tripulação do Hummingbird já sabia o que fazer assim que começou a escutar o encantamento. Se segurando firme nos cordames, eles sentiam a vibração cada vez mais forte vinda do casco. Logo, várias asas de luz como as de um colibri em voo surgiam nas laterais do navio, o erguendo das ondas para o céu dourado do poente.


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