sexta-feira, 30 de maio de 2014

Filho das Profundezas [Semana 10]

Autor: Marco Fischer
Parte X - Impulso

Uma estranha bioluminescência esverdeada iluminava o abismo submerso em clarões esparsos enquanto vozes vindas de lugar nenhum continuavam a ecoar pelas paredes de pedra como se proferidas por fantasmas invisíveis nadando em círculos. Por trás da parede de tinta exalada pelos súditos do Rei Polvo era impossível enxergar o Maleko, mas não havia dúvidas de que sua presença era o olho daquela tempestade de horror em formação.

Os soldados octópodes se preparavam para investir contra o garoto-peixe enquanto o Arauto de Kanaloa continuava em seu estado de torpor psíquico. Precisariam apenas de uma única carga usando a propulsão natural de seus corpos para perfurar o rapaz de todos os lados, acabando com a ameaça. Eles se colocaram em formação ao redor do Maleko, já com as armas em riste, quando algo subitamente os atingiu e fez com que se espalhassem confusos em todas as direções.

Era um anel de bolhas, formado por dois círculos que aumentavam e diminuíam à medida que um passava por dentro do outro, da mesma forma que aqueles expelidos naturalmente por baleias, golfinhos e vulcões submersos, porém muito maior. Enquanto o círculo que se ampliava atingiu os guerreiros polvo, o círculo que diminuía de tamanho se fechou ao redor do Maleko, o erguendo rapidamente pelo abismo na direção da superfície.

Ao chegar às águas mais rasas, ele se viu cercado por um cardume de tubarões de todos os tipos e tamanhos. Alguns o circundavam com curiosidade, outros desciam até a entrada do abismo e espantavam qualquer súdito do Rei Polvo que estivesse vindo ao seu encalço. O maior deles estava simplesmente parado em sua frente, e sobre seu dorso estava o velho sábio do clã que o acolhera.

Ainda com os olhos obscurecidos, o Maleko se libertou do anel de bolhas com um movimento brusco e avançou descontrolado para o velho nativo, espantando os tubarões com o forte clarão esmeralda que projetava na água. O Kahuna não se abalou e reagiu rapidamente com um movimento de seu cajado, criando um forte impulso que lançou o garoto-peixe para a superfície como um canhão.

Violka estava mancando na direção do navio apoiada em Chuva de Outono quando viu o Maleko sendo disparado do mar, voando em um arco vertiginoso até se chocar contra a areia perto de onde estava. Com uma expressão de surpresa, a capitã assentiu para a elfa e as duas desviaram o caminho na direção do garoto.

O Maleko estava completamente desorientado e confuso, sentindo como se estivesse dormindo antes de ser acordado pela queda. Seu corpo estava dolorido pelo impacto e ralado pela areia, mas o solo fofo da praia havia impedido um ferimento pior. Deitado de barriga para cima, ele sentiu seus olhos lentamente voltarem a sua forma original, expulsando lágrimas grossas e negras que escorreram como óleo por seu rosto.

Agora que estava fora do oceano, todas as vozes haviam silenciado. Todas com exceção de uma única, mas essa era a voz melodiosa e gentil daquela que iria se tornar sua capitã.


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