sexta-feira, 9 de maio de 2014

Filho das Profundezas [Semana 07]

Autor: Marco Fischer
Parte VII - Fumaça.

Na pequena mata tropical, o Capitão Faulkner seguia até seu navio, protegido pelos marinheiros que recuavam cautelosamente com os rifles mecânicos engatilhados. Com o Maleko fora da ilha não havia mais o que fazer ali, e uma luta com os nativos seria além de uma perda de tempo desnecessária um motivo para retaliação por outras tribos. Era preciso assegurar que o espécime havia sido capturado pelo seu aparato de exploração submersa em baixa profundidade, como gostava de chamá-lo.

Perto dali, no lago salgado, o mergulhador Mervyn emergia desajeitado e apressadamente removia seu escafandro cheio de água. Olhando em volta, ele não via mais sinal da tripulação, apenas chefe Oke e seus guerreiros o cercando com uma expressão nem um pouco amistosa.

Ainda apoiado nas costas do tubarão-baleia, o Kahuna deslizava na direção da máquina grotesca, que se afastava indiferente ao sábio das ondas em seu animal sagrado. Aquele invasor de metal estava assustando os animais marinhos que iriam alimentar seu povo na estação de pesca. Em uma súbita arremetida, o tubarão se chocou contra o monstro mecânico, que sequer se moveu. Recuando com agilidade, o grande peixe desviou da garra que tentou golpeá-lo e tomou distância outra vez, mas não se preparou para investir novamente.

Se agarrando nos flancos do animal com as pernas, o Kahuna fechou os olhos e balançou seu bastão fazendo círculos na água. Os padrões tribais sobre o dorso do tubarão brilharam com uma luz tremulante que lembrava a do sol sobre o solo marinho. Desenhos similares entalhados no cajado do velho emitiam o mesmo brilho, e quando ele fez um último movimento dando uma estocada na direção do imenso aparato, uma força poderosa como um pequeno tsunami explodiu em um círculo ao seu redor.

O monstro de metal tentou em vão se manter no lugar, cravando uma de suas garras na areia, mas acabou sendo arrastado até o grande abismo azul próximo, despencando nas profundezas com o Maleko enquanto seu motor feito para ficar acima da água pifava e deixava um rastro de fumaça e bolhas.

Ali perto, a brisa marinha balançava calmamente as velas púrpuras do Hummingbird, fazendo com que elas roçassem as folhas das longas palmeiras inclinadas sobre o mar onde a embarcação estava ancorada. Chuva de Outono, a navegadora, se sentou sobre a amurada do castelo de proa deixando que o vento sacudisse seus cabelos alaranjados cortados na altura do ombro. Ela era uma remanescente do escasso povo élfico de uma região agora tomada pelo Império Windlês, algo denunciado pelas suas orelhas pontudas e pelo corpo esguio de fada, recoberto de tatuagens marítimas.

Repentinamente, algo quebrou a tranquilidade da navegadora ruiva, que sacou da cintura uma delicada luneta de madeira e cristal e a apontou na direção do que havia visto. Ela agora podia discernir claramente a coluna de fumaça que subia de algum ponto no litoral. Correndo até o timão, Chuva de Outono gritou uma ordem para a tripulação e se preparou para levantar âncora.

Sua capitã estava precisando de ajuda.


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