Capítulo 9 – Aposta ou Promessa?
O céu estava limpo e o sol já estava se pondo quando Marcos avistou o posto de guarnição depois de dias de caminhada para o norte. O local tinha sido construído aproveitando das ruínas de um velho forte de pedra, um estábulo e um pequeno moinho parcialmente tombado recoberto pela vegetação, formavam o que era aquele posto de recrutamento do Senhor de Súlinm. Marcos ouviu dos soldados que já tinham sido reunidos cerca de 500 homens: entre camponeses, espadachins errantes e ladrões naquele lugar.
Não havia uma ordem de onde dormir, Marcos conseguiu pão e carne seca na distribuição de alimento e buscou um lugar tranquilo para descansar, encontrando no moinho cheio de morcegos um bom abrigo. Lançou o manto sobre um dos blocos de pedra e ali repousou, cravando a tocha no encontro das pedras:
– Vai ficar quanto tempo ai em cima? – comentou em tom despreocupado.
Como se deslizasse das sombras do telhado para luz sem emitir praticamente nenhum som, uma silhueta feminina repousou o corpo sobre uma das vigas de madeira, o manto bege cobrindo-lhe o corpo:
– Como sabia que eu estava aqui, Marcos? – a voz de Apony parecia intrigada.
– Já disse pra mudar de perfume. – comentou, enquanto puxava uma garrafa de vinho. – Você bebe?
– Curioso… você não parece assustado. – os orbes dourados se estreitaram. – Não tem curiosidade de saber o que eu sou?
– Não acho que vou entender, mesmo explicando – deu de ombros, tomando alguns goles do vinho – mas eu acho que você não foi recrutada pra guerra.
– Você é tão divertido! – a mulher sorriu, enquanto deslizava da viga de madeira para próximo de Marcos – mas e você? Não tem obrigação de estar aqui. Por que veio?
– Eu tenho obrigação sim.
– Obrigação com quem? O antigo Regente já morreu e não lhe pediu nada.
– Não é pela memória do meu pai, mas… – olhou da garrafa para encarar os olhos misteriosos da outra – eu acho que me arrependeria se não viesse. – concluiu, um tanto incerto de suas palavras.
– As pessoas morrem nas guerras Marcos. – Apony estendeu o dedo ao gargalo da garrafa, causando um ruído fino com o movimento circular – E se você morrer, quem cuidará do seu irmãozinho?
– Eu não vou morrer, não vou perder pra ela de novo. – apertou a garrafa em sua mão.
– Está desafiando a própria morte, então? – Apony levou o dedo à boca lambendo a bebida – Que aposta ousada, jovem Blackwood.
– Não me importa se é ousada ou impossível. – tomou bons goles e seu rosto já se mostrava ruborizado pelo efeito do álcool. – Eu disse que não morreria, e não vou morrer nessa guerra!
– Então eu também vou apostar, Marcos – Apony enlaçou o pescoço do outro com os braços – Vou apostar em você e contra a morte, e se você voltar vivo… – a mulher aproximou o rosto do de Marcos – no aniversário de nosso primeiro encontro, no mesmo lugar, te direi o meu segredo. – selaram a promessa com um beijo.
“Um homem não é o que promete, mas o que cumpre. Será?”
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