sexta-feira, 18 de abril de 2014

“SentiMente” [Semana 04]

Autora: Silvia Verlene

Vácuo...
Ainda somos atingidos pelo reflexo do lançamento da armadilha subsequente ao alcançarmos a esquina final do primeiro quarteirão em que chegamos. Sem hesitação, RS-3 posiciona-me lateralmente entre seus braços enquanto aproveita a velocidade constante alcançada para fazer das paredes do prédio vítreo ao nosso lado sua pista de atletismo, mantendo-me parcialmente ereto, como se eu estivesse de pé. Com meu parceiro em direção horizontal inicial, apenas busco conforto na nova posição, observando o surgimento de nossos algozes à esquina recém-dobrada. Focados, seguem-nos em crescente velocidade, disparando feixes contra nós. Manobrando de forma a impedir que sejamos atingidos, RS-3 começa a ascender o prédio, mudando completamente nossa rota de fuga do chão para o ar. Apenas sinto suas manobras em um turbilhão de aleatoriedades tão confusas quanto minha própria mente conturbada. Ao topo do prédio, já saltamos para outro menor, entre finas antenas de alumínio e fibra aglomerados, usando-as como rede de proteção para o disparo de mais uma armadilha cupular. Agora só vejo 3 Ciborgans, onde está o quarto?

Pulamos para outro prédio menor, corremos por seu parapeito, saltamos ao suporte ótico do outdoor com a propaganda de um restaurante-bar e suas atrações sedutoras, ao passo que dois dos três perseguidores nos alcançam. Em uma súbita mudança de percurso, RS-3 se deixa aproximar deles, aproveitando a gigante caixa de energia do quarteirão, disposta abaixo do outdoor, como arma, conectando à ela fios roubados das antenas pelas quais passamos, entrelaçando os inimigos em um choque intenso e findável. Estes já eram, só faltam mais dois...

Descemos usando parapeitos, muros e paredões dos prédios ao redor em contínua e desabalada movimentação. Não há tempo a perder a não ser por uma breve sensação incômoda de náusea, a qual mal consigo controlar devido à agitação veloz de RS-3 em sua corrida e acrobacias desvairadas, na tentativa de impedir que sejamos facilmente seguidos. É notória a minha percepção em relação ao desaparecimento de Ciborgans Materiais e Virtuais perambulantes enquanto atravessamos outros em nossa fuga. Se o fazem, é provável que devam algo ao Governo Implantário ou, no mínimo, sejam ativados por chips específicos para medo ou treinamento. Surpreendo-me como, em uma situação desta, nenhum pudor acerca de destruição seja considerado. Por outro lado, repreendo tal surpresa já que o mundo das sensações é um suposto “mito”, também um engodo, assim como toda a vida existente... Se é que eu deveria considerar vida o estado de existência atual em sua complexa simplicidade material, sem essência que não uma simulação do que deveria ser a realidade humana...

Mal desperto de meu devaneio e já nos vemos cercados pelos dois Ciborgans que havíamos perdido de vista. Imediatamente, um deles atira em nossa direção, no que RS-3 não consegue desviar a tempo e é atingido, caindo ao chão ainda me segurando. Vejo o Ciborgan que atirou em nossa direção, ao passo que seu companheiro jaz no chão atingido por seu disparo.

“Vamos!”, ele diz, aproximando-se de nós.


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