sexta-feira, 18 de abril de 2014

Filho das Profundezas [Semana 04]

Autor: Marco Fischer
Parte 4 - Mergulho

Antes que o Capitão Faulkner terminasse de se apresentar, o garoto-peixe submergiu em um piscar de olhos, deixando no lugar onde estava apenas algumas bolhas que estouraram apressadamente nas ondulações de seu mergulho. Violka colocou as mãos sobre a cintura e deu um olhar enviesado ao Arauto do Vapor recém-chegado.

-Se saiu muito bem, Sir Faulkner, se assustar o garoto era o que você queria.

-Ah! Francamente, lady Violka! – respondeu o homem com um sorriso esnobe – Você fala como se fôssemos ineptos a ponto de deixar uma descoberta valiosa escapar assim! Antes de pisar nessa ilha nós a sondamos e verificamos a única saída submersa que nela existe. Não preciso dizer que nosso navio está ancorado justamente lá, com um grupo de meus homens a postos para capturar o espécime!

Violka arregalou os olhos, alarmada, e inclinou o corpo para mergulhar, mas foi interrompida pelo som dos marinheiros que seguiam Faulkner engatilhando seus mosquetes de cano duplo, adornados por engrenagens de cobre. Os nativos continuavam assistindo em silêncio, e deram um passo para trás ao verem as armas sendo apontadas.

-Fique onde está! – alertou o capitão em um tom alto, mas polido – Você pode acabar se machucando!

-Está mesmo me ameaçando, Sir Faulkner? – ela indagou encarando o homem com seus olhos negros e brilhantes, de cílios bem delineados. – Os Navegantes da Bruma também são aliados da Coroa, e você sabe o que costuma acontecer com traidores do Império.

-Ohohohoho! Não se exponha a esse ridículo, ‘capitã’! – respondeu risonho e sarcástico o Arauto do Vapor, seu olho de luneta refletindo o olhar irritado de Violka. – Sua esquadra não é mais do que uma feira modorrenta de vadios itinerantes. Vocês não possuem nenhuma autoridade nesse arquipélago, assim como não possuem em lugar algum!

O capitão se virou para dar uma ordem, mas ela foi interrompida pelo passo firme e pesado de Chefe Oke, brandindo sua larga espada koa, uma arma de madeira robusta que no lugar da lâmina tinha fileiras de grandes dentes de tubarão recolhidos respeitosamente nas praias das ilhas.

-Você também não possui autoridade nesse lugar, forasteiro! – disse o chefe tribal com sua voz poderosa – Essa ilha é nosso santuário aos espíritos do mar! Você perturba nossa Ohana com sua invasão!

Os marinheiros mudaram a pontaria de seus rifles para o chefe, que permaneceu impassível embora sua expressão fosse de hesitação. Ainda mais amedrontados, os guerreiros logo atrás tentavam acompanhá-lo, as mãos trêmulas segurando suas lanças rústicas.

Faulkner não teve tempo de ver Violka escapar, aproveitando a distração. Ele disparou com sua própria arma, mas já era tarde demais para conseguir atingi-la com a capitã for de vista na parte profunda do lago salgado. Com um suspiro de frustração, ele voltou seu olho bom para trás, enquanto a luneta que servia de monóculo continuava vasculhando.

-Mervyn! Estamos precisando de sua ajuda homem!

Com um andar vigoroso, um marinheiro enorme e musculoso trajando uma apertada regata e um escafandro surgiu dos arbustos, prestando uma continência e mergulhando com um salto exagerado.


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