sexta-feira, 11 de abril de 2014

Filho das Profundezas [Semana 03]

Autor: Marco Fischer
Parte 3 - Conflito

-O que quer de mim? – perguntou o garoto anfíbio, flutuando de pé na água enquanto balançava os pés suavemente. –Veio me pedir uma graça?

-Eu vim lhe trazer uma graça – respondeu Violka se inclinando de leve, fazendo com que o Maleko notasse uma tatuagem de beija-flor sobre o ombro da capitã. – Vou te libertar desse lugar e levá-lo para conhecer o mundo.

-E quem disse que quero sair daqui? – respondeu o rapaz se afastando um pouco, com uma expressão contrariada. – Eu não vou voltar para o mar!

Violka suspirou paciente, olhando por um breve momento para trás onde estavam os nativos observando impacientes na areia antes de se voltar outra vez para o garoto.

-Você não pode continuar aqui por muito tempo. As pessoas que vivem aqui no arquipélago, os Hui, estão te tratando bem porque estão na estação de colheita, quando têm fartura de comida, e por isso podem dividi-la com os náufragos e visitantes. Mas daqui a alguns meses começará a estação das guerras, quando os clãs irão lutar entre si pelo controle das ilhas, e você vai acabar sendo morto na confusão.

O rapaz franziu o cenho, uma centelha de dúvida parecendo piscar em seus olhos de constelação. Ele hesitou antes de falar com desconfiança:

-Isso parece ruim... Mas porque você quer me levar? E para onde? Eu não sei nem de onde você saiu.

-Assim como não sabe de onde você mesmo saiu, se o que o pessoal ali atrás me disse é verdade. Não gostaria de descobrir? Eu poderia te ajudar se você viesse comigo.

-Não sei se quero saber – disse o Maleko desviando os olhos para a areia que se agitava no fundo com seu nado agora nervoso.

-Mas eu quero. Sou uma caçadora de histórias, e estou te oferecendo uma chance de encontrar a sua. Você pode vir comigo ou pode ficar aqui esperando até que os Hui comecem a brigar e você termine enfiado em um espeto como um peixe frito.

-Eu vou morrer de qualquer jeito se voltar para o mar – disse o garoto com uma careta de repulsa.

-Não se a gente estiver bem acima dele – a capitã retrucou com um sorriso enigmático, piscando um olho.

-O que quer dizer com isso? – o rapaz perguntou curioso, mas antes que tivesse qualquer resposta, um farfalhar chamou a atenção dos dois para a selva que rodeava o lago de água salgada, e dos arbustos floridos surgiu um senhor grisalho de costeletas com um longo casaco marrom, usando uma cartola baixa e um apetrecho dourado no lugar do olho direito que lembrava a extremidade de uma luneta.

-Peço perdão pela intromissão, cavalheiros! – disse o velho de forma cortês, apoiando o largo mosquete que usava nos ombros enquanto um grupo de marinheiros surgia atrás dele. – Mas em nome do Império de Windlan declaro que este espécime aquático está agora em posse de Vossa Majestade, e eu, Capitão Faulkner dos Arautos do Vapor, me declaro no direito de transferi-lo até o navio onde será estudado.


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