sexta-feira, 18 de abril de 2014

Contos do Amante da Morte [Semana 04]

Autora: Mari-Youko-Sama
Capítulo 03 – Aroma floral.

O outono já mostrava sinais de sua partida. Ao lado do casebre onde Marcos vivia. Um amontoado de madeira já cobria uma das paredes do chão ao teto e ele se ocupava partindo outro tronco. Seus dois irmãos menores brincavam junto ao lince das montanhas.

– Vocês três bem que podiam me ajudar! – enxugava o suor enquanto repousava o machado.

– Da outra vez eu fiquei cheio de farpas! – Miguel levantou as pequenas mãos na direção do maior – Ainda tem marcas, ó!

– Se você tomar cuidado, não se machuca, seu bobo! – Marcela ria do irmão enquanto se aproximava das lascas de madeira recolhendo-as com cuidado.

O pequeno se aborreceu e agitava as folhas secas com um graveto, o lince seguia os movimentos com o olhar atento.

– Sem desculpas Miguel, venha ajudar – com tom mais severo na fala.

O menor inflou as bochechas e juntou as sobrancelhas em uma careta infantil, jogou o graveto longe, bateu a poeira e se juntou a irmã no serviço.

O pequeno lince acompanhou o movimento do graveto e correu para entre as árvores.

– Lirou, não! Volta aqui! – Marcela largou os troncos e seguiu atrás do animal até ser parada por seu irmão mais velho

– Fique aqui e continue o serviço, eu vou atrás dele.

A menor acenou positivamente enquanto Marcos se encaminhava por entre a vegetação tentando ver o pequeno animal, o acumulo de folhas em nada ajudava. Quando pensava tê-lo avistado, o ruído de suas passadas logo se afastava.

Caminhou até perder de vista o casebre atrás dele, ao seu redor as árvores e arbustos tomavam conta da paisagem. Ouviu novamente o som das folhas remexidas e se aproximou agilmente:

–Te achei… – teve a fala interrompida ao se deparar com uma mulher de manto escuro, embora usasse um capuz, longos fios dourados de seu cabelo eram visíveis.

“Naquele momento pensei ter visto olhos dourados também, eu me lembro…”

Aos pés daquela figura estranha, Lirou ronronava amistoso, ela respondeu com um sorriso e abaixou-se para acariciar o pequeno. Logo o tomou nos braços, o animal não oferecendo resistência. A estranha se aproximou de Marcos e lhe entregou em mãos o lince:

– Acredito que era este que procurava. – a voz era melodiosa e Marcos teve a certeza de que aquela mulher não era daquele lugar.

– Obrigado – encarou-a, tentando decifrá-la. – Você não é daqui, está perdida por acaso?

– Talvez. – a mulher lhe devolveu um sorriso sorrateiro, mas não o encarou de volta. – Mas se algum dia me encontrar de novo, não serei mais uma estranha. – ela fez uma breve reverência e virou-se, tomando seu próprio caminho.

Marcos já ia lhe perguntar novamente, quando escutou passos vindos em sua direção. Virou-se por um instante e foi tempo suficiente para aquela mulher desaparecer deixando apenas um aroma floral no ar.

– Irmão! – Marcela o chamou, arfando da corrida – o Miguel… – seu rosto estava vermelho e choroso – ele caiu e não quer mais levantar!

“Nascemos sozinhos, mas só vivemos quando podemos estar junto de outros. No entanto, quando morremos, estamos sozinhos novamente.”


Ir para o próximo capítulo de "Contos do Amante da Morte"

Nenhum comentário:

Postar um comentário