sexta-feira, 28 de março de 2014

Neocene II – nanoships [Semana 01]

Autor: Moonlance
Capítulo 01 : Usuários da placidez

Aquele planeta era chamado 'Vênus', pois sua atmosfera refletia tons verdes-claros, e também porque viver lá era demasiado tranquilo. Fora as recorrentes erupções de vapores heterogêneos observáveis no horizonte árido, não havia nada de particularmente especial para se fazer no centro urbano, e naquele estágio inicial de terra-formação. E especialmente, aborreciam-se na infindável solidão, servidores como Polly Kennathon.

Os Kennathon constituíam uma pequena família, porém de grande atribuição pública na esfera da Federação Galáctica. Detinham, pela profunda e rigorosa tradição política na compreensão de sistemas complexos, responsabilidades que íam além da maioria de qualquer cidadão da galáxia. Com isso, tornavam-se producentes as relações inter-estelares dos Pxychomotakkae cziplakton com outras espécies e formas de consciência colaborativas.

Não obstante, Polly era uma garota problemática. Tinha uma índole difícil – especialmente para uma manager –, e vivia perturbada com angústias insólitas, tendo dificuldade extrema em suportar a passagem do tempo. Única herdeira em potencial de mais de um único cargo fundamental à Federação, vivia sempre em dúvida profunda sobre como deveria, exatamente, encaminhar sua vida – presente e futura. E em Vênus, não tinha com quem conversar – já que ela era praticamente a única habitante real da cidade –, e a sua função administrativa – uma forma de trainee para seu atual nível técnico –, ela considerava essencialmente mecanicista. Os raros porém periódicos contatos a distância, com agentes federativos, familiares e seus pouquíssimos amigos, eram bastante infrutíferos; e quanto a isso, Polly não realmente pensava que conseguiria se adaptar algum dia. Estava, na realidade, seriamente pensando, havia anos, em 'largar' tudo: desistir daquele triste objetivo formacional, e voltar para sua terra natal, Plaktus, o pequeno planeta-sede, que localizava-se a cerca de 60 anos-luz da colônia de Vênus. Se Polly tivesse tido um passado menos turbulento, se não fosse tão nova ou tivesse tido melhores condições de desenvolver uma estrutura mental mais sofisticada, talvez ela não sofresse de tédio e letargia crônicos apenas por passar um tanto de tempo longe de todos os seus semelhantes. Mas, o que ela diria aos outros, então...? sobre sua resignação? Sentia saudades do seu mundo e de sua cultura, com pessoas indo de lá para cá, atarefadas ou não, e também sentia saudades dos outros mundos e sistemas civilizados que tivera oportunidade de conhecer bem, enquanto a filha especial dos Kennathon... Mas também, sentia enorme saudade de Vicki – Vicki Kirsken, sua atenciosa e melhor amiga –, e até mesmo de Stella – Tess-Stella Kacey –, mesmo com toda aquela sua implicância obsessiva e, diriam alguns, desmiolada...! – mas ela tinha seus 'momentos de genialidade', Polly reconhecia, embora não sem algum pesar ou frustração.

Polly então, com algum frênesi contido, registrou burocraticamente o recado de termo final em seu quarto exclusivo e límpido – quase vazio –, e depois mirou o centro urbano e a paisagem de céu esverdeado distante através da janela de polivitrilnita – um material semi-cristalino e polimerizado, com a função de um vidro, entre outras. Estava pronta para mais uma viagem espacial.


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