sexta-feira, 28 de março de 2014

Filho das Profundezas [Semana 01]

Autor: Marco Fischer
Parte 1 - Maleko

Na orla escura da mata tropical, os nativos do arquipélago aguardavam a capitã cigana que se aproximava pela areia. Estavam apreensivos e olhavam com certa ansiedade para a trilha que adentrava a selva, com a entrada marcada por um par de totens esculpidos em troncos de palmeiras, ambos retratando uma entidade local na forma de um polvo com longos tentáculos enroscados.

Apesar da tensão, não havia nenhum sinal de agressividade nos ilhéus. Eles eram os Hui, um povo amistoso que venerava os espíritos do mar como seus ancestrais. Seu lar eram as Ilhas Kupuna, um arquipélago tropical em um ponto isolado dos oceanos de Keleb, que ocasionalmente recebia a visita de corsários do Império Windlês, uma das duas nações mais poderosas do Velho Mundo.

Não havia nada que precisassem temer daquela mulher de pele morena e cabelos castanhos ondulados, com uma mecha azul-esverdeada se sobressaindo na frente. A visitante usava roupas coloridas em tons de violeta e verde, com um lenço amarrado na cintura adornado por búzios que faziam o papel de guizos e grandes brincos de concha e pérola cintilando nas orelhas.

Ela era uma capitã dos Navegantes da Bruma, a mais misteriosa esquadra do Império Windlês. De origem cigana, eles tinham a missão de mapear e desbravar as rotas comerciais dos Mares Orientais, que conheciam muito bem. Porém, muitas vezes eles partiam em longas viagens por conta própria, tomados por um desejo de velejar livremente que os guiava rumo a destinos que nem mesmo eles sabiam.


O chefe do clã Hui que a recebia era um homem alto de pele oliva, que trazia sobre a cabeça um vistoso elmo de penas alaranjadas. Ao lado do líder, havia um senhor que como os outros trajava uma saia de palha, mas tinha tatuagens tribais por todo o corpo. Ele era um Kahuna, um sábio capaz de falar com as ondas e a razão de estarem naquela ilha. Com um cumprimento cortês, a mulher se colocou diante dos dois e falou:

-Aloha, grande chefe Oke. Vim até sua presença para ver o náufrago sobre o qual falaram.

-Não há náufrago se não há barco. – respondeu Oke com sua voz grave. – O ser que habita essa ilha é um Maleko, uma criatura vinda do oceano.

-Então já descobriram o que ele é? – perguntou a capitã, sendo respondida pelo Kahuna:

-‘Maleko’ é um nome que usamos para todos os entes do mar. – o velho explicou – Nós não sabemos o que ele é, mas temos certeza do que ele não é. Não pertence aos espíritos e nem aos demônios de nossas ilhas. Os deuses-tubarão não sabem de que lugar ele veio, mas sabem que fica nas profundezas escuras, onde nem mesmo eles ousam ir nadar.

-E o que nosso Maleko tem a dizer sobre isso? – ela insistiu.

-Ele diz não saber. – o Kahuna respondeu desconfortável – Está perdido e confuso, assim como nós com a presença dele. Mas já que ainda está tão curiosa, Capitã Violka, venha conosco e veja com seus próprios olhos.


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